A força amiga de Capicua

Capicua volta às edições discográficas com este single “Que Força É Essa Amiga”, trata-se de uma adaptação criada a partir da popular canção de Sérgio Godinho, com uma letra que aborda a importância de reconhecer o valor do trabalho doméstico e reprodutivo, habitualmente garantido pelas mulheres.

Alterando os versos da canção original, trocando as frases alusivas à exploração do trabalho de uns para o enriquecimento de outros, personificada num homem, por frases novas, que alertam para a realidade que muitas mulheres vivem: o trabalho doméstico, o trabalho reprodutivo, os cuidados informais que não são remunerados, várias formas de exploração da mulher e do seu corpo que são, muitas vezes, invisíveis. É uma canção insurgente e subversiva, que deixa o mote para uma reflexão: Que força é essa, amiga, que te faz levar o mundo todo na barriga?

“Eu não sou intérprete. Fazer versões de canções alheias sempre me pareceu estranho. Se já está escrito, perde-se o sentido. Se não escrevi, raramente apetece dizer com a minha voz, as palavras parecem-me demasiado alheias. Acontece que há exceções, para as vontades e para as versões. Primeiro, porque as palavras de Sérgio Godinho estão sempre próximas, ecoam nas paredes da casa mãe, estão no domínio da memória mais profunda e, talvez por isso, são familiares demais para soarem estrangeiras. Segundo, porque já as tenho visitado de tempos a tempos, com ele em palco, sampleando, citando ou aludindo, nas minhas canções ou em homenagem (como na curadoria que fiz no disco “SG Gigante”). E depois, porque a generosidade infinita do Sérgio e o seu desprendimento permitem que a versão se faça na (re)escrita (e assim ainda entusiasma mais). “Que força é essa” é a primeira música do primeiro álbum do Sérgio, que é também o meu favorito. Canto-a tantas vezes pela casa que o meu filho, ainda bebé, quando um dia desabafei de cansaço por “trabalhar o dia inteiro” completou a minha frase cantarolando “a construir as cidades para os outros”. Nesse momento, apercebi-me (entre risos) o quanto as infâncias e as gerações se cruzam  pela música e fiquei com vontade de inventar a minha versão do “Que força é essa” em jeito de celebração.  A ocasião chegou em Janeiro, para o concerto “Conta-me uma canção” no Maria Matos, em que partilhei o palco com o Sérgio, com o desafio de trocarmos e partilharmos músicas. Era a oportunidade certa. Mas como? O original tem tudo e é de uma eficiência musical e poética rara, pouco poderia acrescentar. A batida é minimalista, o arranjo é austero e cria o ambiente perfeito para aquela letra sublime, que vive no equilíbrio entre a poesia e a denúncia, falando de exploração, semeando a subversão, sem nunca ser panfletária. Resolvi pegar no tema pela perspectiva, mantendo o registo e a emoção, mas falando das mulheres e da exploração do trabalho doméstico e reprodutivo, historicamente desvalorizado e invisibilizado. A minha versão seria no feminino e, mantendo a estrutura dos versos, preservando o corpo do refrão, apontaria a questão “que força é essa?” para a(s) amiga(s).  Este ano celebramos os 50 anos da Revolução dos Cravos. O 25 de Abril foi providencial para a libertação das mulheres no nosso país e, nestas cinco décadas de democracia, concretizamos enormes conquistas no que diz respeito à igualdade de género. Muito mudou em Portugal em termos de liberdades, direitos consagrados, escolarização, presença no mercado de trabalho e independência financeira das mulheres.  Há que celebrar o caminho feito, mas importa relembrar que nunca podemos dar essas conquistas como garantidas e que temos ainda muito a  fazer para que a igualdade seja plena e para todas. (Sobretudo dentro de casa). Esta é a minha forma de celebrar Abril, homenagear um dos seus maiores ícones musicais (Sérgio Godinho) e de semear, como ele, a semente do inconformismo, no coração de todas as mulheres que dão o tempo e o sangue para garantir a economia do cuidado e a mão de obra do futuro. A minha versão é delas!” Capicua

Próximos concertos:

21 DE MARÇO
Santo Tirso – Fábrica de Santo Thyrso
21h30 – entrada livre

23 DE MARÇO
Viseu – Mercado 2 de Maio
21h30 – entrada livre

24 DE ABRIL
Lisboa – CCB
Participação no espetáculo “A Luta Continua”
22h – 5€ a 25€
Bilhetes disponíveis aqui

27 DE ABRIL
Lisboa – Palácio Baldaya
17h – entrada livre

Inscreva-se agora para continuar a receber todas as notícias (só de música).

Política de privacidade


Comentários

Deixe o seu comentário: