Sob Escuta: Mila Dores “Nem santa, nem puta”

O novo disco da Mila Dores, “BRAVA”, chegou às lojas e plataformas digitais em 15 de Março.

Produzido por Filipe Sambado, foi apresentado em 15 e 17 em Lisboa, no Tokyo, e no Porto, no Novo Ático, respectivamente, estreia ao vivo das novas canções.

Em destaque Sob Escuta está o tema “Nem santa, nem puta”, uma canção marcadamente feminista, subersiva e crítica da sociedade patriarcal.

Escrevi estas canções depois de ter queimado um caderno onde tinha rabiscos de acordes, meias frases, palavras, refrões e versos soltos e algumas canções acabadas.

Numa tarde de pandemia num terraço no Porto pus aquilo tudo dentro de uma panela muito usada e deitei-lhe fogo. Salvei uma folha onde tinha escrito: ”Isto de ser mulher, não é quando um homem quer”.

Enquanto o fogo ardia e os cantos das folhas se iam encarquilhando, e à medida que as palavras iam desaparecendo, absorta pelas chamas e um pouco em pânico porque estava a apagar matéria-prima, ia dizendo repetidamente baixinho “deixa arder, deixa arder, deixa arder”.

Deixei nas chamas canções de amor não correspondido, resquícios de histórias sobre situações que me deixaram muito triste e desiludida, frases melódicas e progressões harmónicas que dariam vida a lugares passados que não quero reviver.

Queria escrever sobre o presente.
O que queria eu dizer?
Pensei muito sobre o que significa ser artista, em porque é que eu sou artista e sobre o que quero escrever e cantar neste mundo contemporâneo em que me sinto tantas vezes “desempoderada” socialmente e calada.

Comecei a escrever este texto na folha em que dizia “isto de ser mulher não é quando um homem quer”: nada venero. só rezo quando eu quero e só eu é que decido quem cá canta. Eu é que uso a gravata e eu é que mando em mim e se me dizem mais uma vez como me devo vestir e comportar e com quem vou para a cama e quando eu passo-me.
Estou farta do patriarcado, quero que se lixem as regras dos homens.
Deixa isso tudo arder.

Numa nota de descrição formal da coisa posso dizer-vos que a “Brava” é um disco que casa o lirismo feminista com o Indie pop e com ecos da música tradicional portuguesa e notas de poesia de Abril, mas quero sobretudo dizer-vos que é sobre as minhas histórias dentro de um mundo contemporâneo que eu tenho visto cada vez mais isolado e desesperado por atenção, conexão e Sol.

Chamei-lhe “Brava” porque o dedico a todas as Bravas e Brav@s de hoje e de sempre e porque, poesia à parte, é preciso ser corajosa para editar música independente em tom feminino nos dias que correm.

Mila Dores

Mila Dores é uma artista com um intenso “espírito livre” – palavras roubadas a uma crítica do Sunday Times aquando da sua passagem pelo Reino Unido – cuja música e olhar imprimem uma auto descoberta destemida. Estudou no Leeds College of Music e partilhou o palco com músicos de referência da cena jazzística britânica entre 2006 e 2012. Voltou a Portugal e aventurou-se para os palcos e para a gravação do seu disco de estreia – o álbum “A Quem Possa Interessar” sai em 2015

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